Já não há muito para escrever acerca da colaboração entre humanos e máquinas. Ou há? Todos terão de se adaptar à evolução tecnológica de uma forma ou de outra, e, na maioria dos casos que vamos conhecendo, esta é bem-vinda. Porquê? Porque permite apoiar o humano onde este não é tão forte ou não acrescenta valor: no desempenho de tarefas repetitivas, na deteção de padrões em elevados volumes de dados ou até mesmo na realização de atas de reunião, estes são apenas alguns dos muitos outros exemplos que mostram como as máquinas nos podem ultrapassar em quantidade e qualidade.
Ao contrário do laser, que, à data da sua descoberta e aplicação prática, ficou famoso por ser uma solução à procura de um problema, a inteligência artificial é uma solução para inúmeros e já conhecidos problemas e desafios com que nos confrontamos. Desde logo a nossa pirâmide etária, um desafio num Mundo ocidental em que as pessoas vivem mais, têm menos filhos, mas querem mais coisas, durante mais tempo. Trata-se de uma tendência com efeitos de longo prazo e que por isso necessita de soluções estruturais. Há menos pessoas produtivas para servir mais pessoas que não produzem, logo, um convite claro à colaboração da inteligência artificial.
É aqui que podemos usar a IA para realmente fazer a diferença. Queremos um médico que passa 75% do tempo de uma consulta atrás de um monitor a tirar notas ou a realmente interagir com o paciente? Ao avaliar um colaborador, queremos o líder focado no seu desenvolvimento futuro ou analisar métricas para formalizar uma avaliação? No atendimento aos clientes, queremos ter os gestores de contacto em constante pesquisa de informação ou focados no cliente e no seu problema? A IA vem ampliar o ser humano, permitindo que se foque nas suas capacidades únicas, pelo que devemos deixá-la fazer esse caminho ao nosso serviço.
Como é já conhecido, há uma lista enorme de temas em que a IA pode fazer parte da solução, pelo que deve ser vista como uma aliada, especialmente num Mundo em crónica escassez de talento.
Mas esta solução traz trabalho de casa para todas as partes, as pessoas devem adaptar-se e procurar atualizar-se: já é comum dizer que a IA não vai tirar o emprego a ninguém, mas que alguém que sabe trabalhar com IA o poderá fazer.
As empresas são as principais interessadas em fazer esta simbiose funcionar, pelo que impulsionar a formação para adaptar as suas pessoas é fundamental. Os Governos e decisores políticos devem garantir uma regulação ativa e concreta para que esta tão importante solução não se transforme num problema.
Caberá à liderança tomar as ações necessárias, apontar a direção e seguir firmemente a execução de uma estratégia de adoção que permita extrair o máximo valor da IA. Ao fazê-lo, permitirá que as pessoas passem mais tempo a usar as suas competências únicas e não replicáveis por máquinas… ainda. Mais capítulos se seguirão certamente e muitas questões por responder nos aparecerão num futuro que não imagino muito longínquo.
Este artigo foi publicado na edição de inverno da revista Líder, que tem como tema The Touch of the Future. Subscreva a Líder aqui.