Corações pendurados em fio, mesas numeradas como numa quermesse e guarda-sóis alinhados a fazer sombra às ideias. Não é um festival de verão, mas podia ser: há ritmo, conversa acelerada e promessas trocadas a correr contra o tempo. À banda sonora, baladas pop românticas — Kiss, Heaven is a Place on Earth, Crazy Little Thing Called Love — a dar o tom ao que se quer leve, mas certeiro.
Nesta espécie de jogo entre ciência e sedução, os investigadores e professores da Nova SBE têm apenas três minutos para conquistar os jornalistas. Cada pessoa tem direito a seis rounds — seis conversas rápidas, entre mimosas e sorrisos, onde se fala menos de amor e mais de inteligência artificial com propósito, sustentabilidade e ecossistemas marinhos à beira do colapso.
Trocam-se números, lançam-se ideias, ensaiam-se futuros. E, pelo meio, há mesmo quem saia de lá a pensar no segundo encontro.
Começamos por ouvir Frederica Mendonça, doutoranda na Nova School of Business and Economics, que nos leva até Quelimane, Moçambique, onde investiga formas de urbanização com equilíbrio. «A urbanização de uma cidade só acontece com vontade política», diz. Para ela, a proximidade às populações «é fundamental para a boa implementação de qualquer projeto urbano». Fala com calma, mas com firmeza. Está habituada a que lhe digam que sonhar é pouco prático. Ela insiste que o problema está na distância entre quem planeia e quem vive.
Segue-se Ricardo Colaço, investigador no Centro de Investigação em Economia da Educação. Pergunta-se — e pergunta-nos — se o ensino privado forma realmente melhor do que o público. «É difícil calcular, mas é importante medir o valor acrescentado de uma escola no percurso do aluno.» Colaço não foge às complexidades: reconhece os enviesamentos, mas insiste que comparar com critério pode ajudar a transformar.
Na terceira mesa, Roberto Ragozzino, professor de Estratégia Empresarial e Políticas Públicas, defende que só com articulação se avança. «É preciso empoderar a administração pública», afirma, sublinhando que são os técnicos no terreno que conhecem os programas por dentro. A ciência, diz ele, tem de ser aliada: complementar o saber prático com dados rigorosos, com perguntas difíceis, com escuta activa.
Lénia Mestrinho, especialista em Digital Data Design, entra com uma visão afiada sobre o presente e o que vem aí. Acredita que a inteligência artificial deve optimizar, sim, mas também compreender. O laboratório da Nova onde trabalha quer ser o primeiro no mundo a interpretar em tempo real como os humanos reagem à IA — seja um paciente que recebe um diagnóstico gerado por algoritmo, seja um consumidor confrontado com uma decisão tomada por máquina. «Queremos criar um contexto de investigação tão bom que os melhores investigadores queiram vir trabalhar connosco.» A meta é clara: fazer ciência que sente.
Na penúltima mesa, Leid Zejnilovic, professor e especialista em regulação e operações tecnológicas, vai à raiz do problema: «A regulação é sempre reativa — e nem sempre bem pensada para um mundo que muda demasiado rápido.» Para ele, sem espaço para experimentação, não se vai longe. A ética, diz, tem de deixar de ser um apêndice. «Recuperá-la passa por cada um de nós. Agir com valores e promovê-los.»
Por fim, Natalie Truong Faust desmonta certezas com uma reflexão provocadora sobre maquilhagem. Sim, maquilhagem. Fala de como a mudança de aparência pode libertar — mas também empurrar para comportamentos mais arriscados, até autodestrutivos. «É como se vestíssemos outra pele e ganhássemos permissão para agir de forma diferente.» E talvez seja precisamente essa dissonância que permita que, por momentos, nos revejamos fora do lugar habitual — e reinventemos qualquer coisa em nós.
Com o sol a queimar e o som a abrandar, ficava no ar uma ideia quase absurda: que entre um gole de mimosa e dois minutos sobre algoritmos, pode nascer qualquer coisa que resista ao tempo. Não se trata só de traduzir papers nem de tornar a academia mais palatável — trata-se de olhar nos olhos de quem investiga e perceber se ainda há margem para apaixonar o mundo com perguntas bem feitas. E nesse final, com os corações de papel a balançar no fio, houve quem saísse dali com mais do que contactos: saiu com vontade.