Esta crónica é sobre Crónica de África, o novo livro de Manuel S. Fonseca (Guerra e Paz). É um livro maravilhoso. Por várias razões. Por estar bem escrito e por fazer o que fazem os bons livros: transporta-nos para um universo que passa a ser o nosso por umas horas.
Aqui, esse universo é Angola. É um livro percorrido por uma nostalgia feliz que nos faz felizes por umas horas.
Mas não é por isso sobretudo que dedico esta crónica a essa Crónica. É por outra razão. Nos últimos tempos, já largos, combinar Portugal e África serve para produzir exercícios de culpa e autoflagelação. Devem essas partes do nosso passado comum ser omitidas? Claro que não. Mas reduzir tudo à escravatura e como agora se diz a pessoas racializadas, exploração, colonialismo, massacres, torturas, prisões políticas, pós-colonialismo é um exercício de enviesado como enviesada é a versão luso-tropicalista das descobertas.
Por isso este livro é um também exercício de coragem: a coragem, de não tomar a nuvem por Juno e ver como, para muitos portugueses, esta África deles é um espaço de felicidade e de vida. Eu que nunca vivi em África pude agora beneficiar dessa vivência feliz. E se queremos construir um melhor futuro, não basta meter o dedo em feridas. É preciso pô-las ao ar para as sarar. Livros como este vêm lembrá-lo.