Agora que aí vem o mês de agosto, para muitos o mês de férias, regresso a um tema clássico: a minha lista de leituras – umas tantas que concluí e que recomendo, outras que vão na sacola. Começo com André Gide e Regresso da URSS (Dom Quixote), o retrato de uma desilusão. Sabe-se que os intelectuais foram usados como turistas políticos para transmitirem uma certa ideia daquele país. Gide viu e relatou o que viu. E viu uma realidade menos promissora que aquela que a ideologia prometia. Este livro originalmente de 1936 fixa as reflexões dessa viagem. O prefácio é do entretanto desaparecido Paulo Tunhas. A passagem em que descreve a tentativa de escrever um telegrama a Estaline é de antologia.
Muito recomendável para quem se interessa pela gestão de empresas é o extraordinário livro de Zeynep Ton, The case for good jobs (Harvard). Ton escreve sobre a forma como algumas empresas, uma minoria, criaram uma estratégia para desenhar bons trabalhos. A solução, numa altura em que se discute a necessidade de desenvolver trabalhos decentes, é muito intuitiva mas difícil de executar. Um livro de gestão que é uma leitura prazerosa e certamente muito compensadora para os leitores-gestores.
Para ler, mesmo em férias ou especialmente em férias, História do Trabalho, de Jan Lucassen (Temas e Debates). Conhecer o trabalho é conhecer a humanidade. Este é um volume ambicioso que tanto trata dos agricultores egípcios como dos trabalhadores hereditários da Índia como dos sindicatos modernos. Um tema irresistível. Noutro domínio e porque o trabalho consome tanto do nosso tempo, importa explorar 4000 Semanas: Gestão de Tempo para Mortais, de Oliver Burkeman (Objetiva). Os livros sobre gestão do tempo são normalmente obras chatas e prescritivas. Não é o caso deste trabalho do colunista do Guardian que convoca Kafka, Séneca e Borges para nos ajudar a usar as 4 mil semanas de que dispomos ao longo da vida.
O Verão é também oportuno para mergulhar em Planta Sapiens, de Paco Calvo (Presença), um trabalho sobre a inteligência das plantas. Em vez de apenas contemplar a natureza, tentemos aprender algo sobre ela, nomeadamente sobre a inteligência do mundo vegetal. Olhemos finalmente para nós: O Estranho e Surpreendente Mundo dos Sentidos, de Guy Lechziner (Vogais). É um convite ao mergulho no mundo próximo e desconhecido dos nossos sentidos. O meu motivo para explorar este livro é ajudar a resolver um mistério: um dos bons professores que tive ensinava etologia. As suas descrições dos peixes com que trabalhava eram maravilhosas e evocativas. E, no entanto, ele era cego. Espero perceber melhor esse talento depois de ler este livro. E espero ter tempo para ler todos os livros que gostaria. Mas também espero guardar algum tempo para não fazer nada. Se for o seu caso, boas férias!