Os portugueses foram às urnas ontem, para as eleições autárquicas, numa campanha que se revelou especialmente renhida para muitos concelhos. As sondagens indicavam empates técnicos nos maiores municípios, mas os votos falaram por si: o Partido Social Democrata destacou-se neste sufrágio, conquistando mais presidências da câmara do que o Partido Socialista.
Os sociais-democratas conquistaram grandes centros urbanos ao PS, como Sintra e Vila Nova de Gaia — que era socialista há 12 anos —, e dominaram no Porto e em Lisboa. Ao todo, conquistaram mais 22 câmaras, ao passo que os socialistas perderam também 22.
Apesar disso, o PS conquistou cinco capitais de distrito e localidades historicamente lideradas pelo PSD, como Coimbra e Faro. A vitória mais expressiva foi em Viseu e Bragança, autarquias sociais-democratas há 36 e 28 anos, respetivamente. Também a presidência da câmara de Évora foi conquistada à CDU pelos socialistas.
Em matéria de igualdade de género, também houve progresso: embora apenas 51 mulheres tenham sido eleitas presidentes de câmara, este número representa um aumento de 21 líderes face a 2021. Beja e Leiria foram os únicos distritos onde nenhuma mulher foi eleita presidente.
O PCP assumiu a derrota nestas eleições, após o partido e as suas coligações perderem em Beja, Évora e Setúbal. Ainda assim, registou novas conquistas, em Mora, Sines, Montemor-o-Novo e Aljustrel. No total, a CDU garantiu a presidência de 12 câmaras.
O Chega ficou longe dos resultados esperados, não atingindo o objetivo de conquistar 30 câmaras e ficando atrás do CDS-PP, com apenas três presidentes eleitos, em Albufeira, Entroncamento e São João Vicente, na Madeira.
A abstenção desceu, fixando-se nos 40,74%, em comparação com os 46,35% de 2021.
Lisboa e Porto vestem laranja
Em Lisboa, Carlos Moedas foi reeleito presidente da câmara, mas sem alcançar a maioria absoluta. A coligação que lidera conquistou oito mandatos, mais dois do que a aliança encabeçada por Alexandra Leitão (PS/L/BE/PAN), que ficou em segundo lugar. O Chega ultrapassou a CDU por uma margem mínima de 11 votos.
Na noite eleitoral, Carlos Moedas apelou à oposição para que coloque «os interesses da cidade acima dos interesses partidários», enquanto Alexandra Leitão reconheceu a derrota e garantiu que fará uma «oposição rigorosa, firme e com propósito».
Em Sintra, Marco Almeida, candidato da coligação PSD/IL/PAN, venceu a autarquia, pondo termo a 12 anos de liderança socialista sob Basílio Horta. A adversária do PS/Livre, Ana Mendes Godinho, ficou em segundo lugar, enquanto Rita Matias, do Chega, terminou distante das duas principais candidaturas.
Após a vitória, Marco Almeida prometeu apostar na «qualificação das infraestruturas» e em devolver aos sintrenses «o orgulho de viver no concelho».
A conquista do PSD surge num cenário de fragmentação à direita: o CDS-PP concorreu separado, em coligação com o ADN e o PPM, após divergências internas com a escolha de Almeida. Apesar das sondagens indicarem um empate técnico entre as três principais forças, o resultado acabou por consolidar a candidatura apoiada por figuras nacionais do PSD, IL e PAN, como Manuela Ferreira Leite e Fernando Seara.
Cascais traz ventos de mudança, Oeiras mantém
A coligação PSD/CDS-PP conseguiu manter o controlo da Câmara Municipal de Cascais, mas perdeu a maioria absoluta neste domingo. O executivo municipal ficará mais fragmentado, já que João Maria Jonet, candidato independente, e o Chega conquistaram dois vereadores cada, alterando o equilíbrio político que vigorava há 12 anos.
A lista liderada por Nuno Piteira Lopes — atual vice-presidente e sucessor de Carlos Carreiras — reuniu 33,87% dos votos, elegendo cinco vereadores, menos dois do que em 2021. O Partido Socialista manteve-se como segunda força mais votada, com 16,18%, elegendo dois vereadores, também menos um face ao último ato eleitoral.
Já o independente João Maria Jonet, antigo comentador e ex-militante social-democrata, obteve 14,71% dos votos, igualando o Chega, que reforçou a sua representação no executivo ao alcançar 14,5%. Com o fim da maioria da coligação, Cascais entra agora num novo ciclo político, marcado pela necessidade de entendimento entre as forças da direita e do centro-direita para garantir a governabilidade do município.
Já em Oeiras, houve poucas surpresas, como era de esperar. Isaltino Morais foi novamente eleito presidente da Câmara Municipal de Oeiras, para o 11º mandato, alcançando uma expressiva vitória com 61,94% dos votos. A liderar o movimento independente Inovar Oeiras, com o apoio do PSD, conquistou nove mandatos, mais um do que nas anteriores eleições autárquicas.
A coligação PS/PAN, liderada por Ana Sofia Antunes, obteve 11,29% dos votos e garantiu um vereador. O Chega conquistou igualmente um mandato, com 8,48% da votação. Já o movimento Evoluir Oeiras, apoiado pelo Bloco de Esquerda, Livre e Volt Portugal, ficou-se pelos 6,34%, não conseguindo eleger representantes.
Imagem destaque: Instagram Carlos Moedas




