O tema da equidade de género na ciência – e noutras áreas – estava longe de ser notícia quando, em 1998, foi criado o programa internacional «For Women in Science».
Reconhecer as mulheres que sobressaíam nas várias regiões do mundo pelas suas descobertas e incentivar as jovens cientistas a prosseguir projetos promissores foram dois objetivos desta parceria L’Oréal – UNESCO, contribuindo uma ciência mais justa e equitativa.
Ao longo dos 25 anos que agora se celebram sobre o arranque do «For Women in Science», os indicadores europeus que avaliam a equidade no ensino, na ciência e no emprego académico têm vindo a melhorar. Em Portugal, por exemplo, já são mais as doutoradas mulheres e a presença feminina nas equipas de investigação está próxima da equidade: temos 52,9% de mulheres doutoradas e 43,3% dos investigadores são mulheres, segundo as últimas estatísticas europeias She Figures. Portugal é, aliás, um país em que a maioria dos indicadores avaliados está acima da média europeia.
Se é certo que este percurso nos deve orgulhar, é certo também que há ainda muito para avançar.
Há áreas em que a falta de inclusão e equidade ainda são notórias e em que a baixa participação das mulheres significa um risco – o de perpetuarmos uma visão parcial e enviesada. As posições de topo e liderança na investigação e na academia são um exemplo. As áreas de conhecimento relacionadas com as Tecnologias da Informação e Comunicação – as TIC – são outro.
Mesmo em Portugal, onde a maioria dos indicadores são animadores, o Boletim Estatístico sobre a Igualdade de Género diz-nos que só 17,5% das matrículas no ensino superior nesta área das TIC são de mulheres, e no emprego especializado elas são apenas um quinto. Nas STEM, que incluem também outras ciências, engenharias e matemáticas, os números são um pouco melhores, mas as portuguesas representam ainda 37% dos diplomados.
Por isso, enquanto o mundo científico e a sociedade em geral não forem suficientemente plurais e inclusivos é preciso fazer mais.
É preciso continuar a dar reconhecimento e visibilidade a estas mulheres da ciência, para que elas possam avançar, para que possam servir de modelo às gerações seguintes e para que os seus talentos não sejam desperdiçados quando há tantos desafios a precisar do seu conhecimento e do seu contributo.
Num survey junto das cerca de 4000 cientistas apoiadas pelos programas For Women in Science ao longo destes 25 anos, 93% considerou que o apoio recebido reforçou a sua confiança, 95% disse-nos que aumentou a sua visibilidade, 81% revelou que mais oportunidades profissionais se abriram e praticamente todas se mantêm na investigação e assim pretendem continuar nos próximos anos.
Ter este feedback vindo das jovens e mulheres da ciência seria o bastante para justificar a continuidade destas iniciativas. E ter este feedback reforça a convicção que nos tem guiado até aqui, também em Portugal, onde há 19 anos decorre o programa Medalhas de Honra para as Mulheres na Ciência.
Continuaremos com a mesma convicção, de que é essencial apoiar a ciência e o papel das mulheres na ciência e de que esta é uma mudança que precisa de todos, desafiando mais organizações a juntar-se a este propósito – para que estas mulheres excecionais possam derrubar barreiras, responder a desafios que a todos afetam e mudar para melhor as condições de vida de milhões de pessoas.