Na nossa história evolutiva o caminho para o poder tem sido pavimentado por duas estratégias de liderança essenciais: a dominação (mais antiga) e o prestígio (mais recente).
Na primeira, o líder usa a força, a intimidação e a coerção em situações grupais, ou evoca ameaças reais ou imaginárias ao grupo, convencendo-o de que ele, e só ele, é capaz de o defender. É assim que é escolhido, o chamado “líder guerreiro”.
A preferência por este tipo de líderes (autoritários, agressivos, com necessidade constante de atenção e com comportamentos excessivamente dramáticos), tende a aumentar quando aumenta a perceção da incerteza e de ameaças por parte de um grupo num dado ambiente ou circunstâncias. Porquê? Porque quando os indivíduos se sentem ameaçados e com um sentimento de falta de controlo das suas vidas ou de escassez de oportunidades, tendem a acreditar e a favorecer estes líderes, como alguém capaz de “mostrar o caminho” para lutar contra as ameaças percebidas, criando assim a ilusória sensação de proteção.
Os líderes histriónicos exercem o poder oscilando entre a agressividade e o exibicionismo através da intimidação, da mímica, da ameaça e da reiteração, por vezes histriónica também, da sua presença e, sobretudo, da sua importância, promovendo a submissão dentro do grupo. Para os que aceitam a dominação trata-se de minimizar as perdas através de comportamentos de evitação de confronto, oposição ao líder, complacência, bajulação, ou simplesmente pelo prazer de servir alguém considerado socialmente importante. Ou tudo isto ao mesmo tempo!
É comum a estes líderes apresentarem traços de personalidade considerados subclínicos (border line), que se caracterizam pela agressividade e a manipulação, caindo facilmente na chamada “tríade negra da liderança”[1] e chegam mesmo a encarar os membros do grupo ora como aliados, ora como inimigos, eliminando-os se necessário.
Então, por que razão alguém quererá seguir um líder histriónico? Essencialmente, porque aos olhos dos grupos humanos que se sentem ameaçados, estes líderes parecem mais atrativos do que os traços de um líder que baseia o seu comportamento no prestígio e no reconhecimento. A agressividade e mesmo a obsessão pelo poder parecem ser atrativas em certas circunstâncias, pelo menos para certos grupos de seguidores.
Não é surpreendente que os líderes dominadores, com um perfil histriónico, continuem a fazer parte da coreografia no mundo empresarial, no desporto ou na política. Sempre que há retrocessos no progresso social e estados de crise acentuada, os líderes dominadores e autoritários tendem a ser selecionados e dá-se aquilo a que chamei noutro local, uma «regressão evolutiva».[2]
Em resumo, tudo nos incita a acreditar que isto faz parte da nossa natureza, porém, se tivermos consciência disso, podemos mais facilmente tentar controlar e contrariar as nossas tendências mais profundas que nos podem levar a escolhas (tão) erradas no domínio da liderança. Afinal, bons líderes salvam vidas, maus líderes…matam!
Por Paulo Finuras, PhD Prof. Associado Convidado no ISG Business & Economics School
[1] Nomeadamente, maquiavelismo, narcisismo e psicopatia. Vd. Finuras, P. (2018). Bioliderança: por que seguimos quem seguimos? Edições Sílabo.
[2] Vd. Finuras (2018).Bioliderança. Ed. Sílabo.