Vivemos em tempos em que escolher uma mentalidade de oportunidade ou de medo fará a diferença. Fará a diferença na satisfação e na motivação no trabalho, família e comunidade. Escolher entre competir ou colaborar, entre a discórdia ou a harmonia, entre o conflito ou a negociação, irá ditar as relações humanas no espaço privado e público.
Há uns dias anunciava-se, na Imprensa, que a grande crise que se está a instalar é uma crise política e que tem a sua origem no medo – medo de perda de poder de compra, perda de território, perda de poder e até mesmo medo de perda de seguidores ou likes. O curioso será verificar que ninguém faz paragens para escutar que, com todos estes medos, colocamo-nos muito próximos de perder a liberdade e a autonomia.
Todos e cada de um de nós teremos, então, a opção de escutar o ruído da escassez, onde prosperam mensagens “virulentas” que conduzem à estagnação, ou procurar o silêncio da abundância enquanto lugar de possibilidades ilimitadas, onde a criatividade e autonomia servem um propósito sustentável.
Quantas vezes não ouvimos ou verbalizamos queixas de falta de recursos (pessoas, dinheiro, material)? Se pensarmos bem, pessoas de outros tempos ou outros locais conseguiram e conseguem ultrapassar a falta dos mesmos recursos, apenas focando-se não no que lhes falta, mas sim no que têm ao ser dispor. Estas últimas são pessoas que vivem com uma mentalidade de abundância. Pessoas que acabam por desenvolver competências do que habitualmente se apelida de “desenrasca”, ou seja, competências de criatividade e inovação. E são também pessoas que entendem a colaboração como o meio para a concretização e para a autonomia.
Neste lugar de abundância também existe espaço para o descontentamento. A diferença é que na mentalidade de escassez flui uma energia limitante, em que o ruído preenche todo o espaço, existindo desespero pela sobrevivência e em que a competição e inveja impedem a partilha. Com uma mentalidade de abundância, o descontentamento surge com um desejo forte de prosperar, de fazer algo diferente para se abrirem opções. A mentalidade de abundância impulsiona a colaboração, porque entende a interdependência como crucial no processo, sem ser percecionada como perda de autonomia. O pensamento está focado no longo prazo e onde todos conseguem obter retorno positivo.
Nestes tempos cada vez mais globais, em que a informação e o consequente ruído circulam a grande velocidade, é um verdadeiro desafio conseguir eliminar o que não nos condiciona e mantermos o foco apenas na abundância. É um desafio que deveria ser impulsionado por líderes de todas as esferas sociais.
Ao iniciarmos um novo ano, convido todos a serem esses líderes e que contagiem aqueles com que se cruzarem com a energia de parar para ouvir num lugar de abundância!
Esta opinião foi publicada na edição nº 28 da revista Líder, sob o tema Silêncio. Subscreva a Revista Líder aqui.