Num mundo em que a inteligência artificial molda a informação, influencia decisões e redefine perceções, torna-se urgente formar cidadãos capazes de interpretar, questionar e agir com pensamento crítico. Neste contexto, a literacia mediática e informacional (MIL, na sigla inglesa) assume um papel central, sobretudo numa era marcada pela desinformação e pela velocidade com que os conteúdos se propagam. Mais do que uma competência, a MIL é hoje uma ferramenta de resiliência democrática e de consciência digital.
Foi sob esse propósito que aconteceu a 14.ª edição da Global Media and Information Literacy Week, celebrada pela ONU entre 24 e 31 de outubro, e a sua conferência principal, realizada em Cartagena de Indias, Colômbia, nos dias 23 e 24. A cimeira centrou-se no tema Mentes sobre a IA – MIL em Espaços Digitais.

Este evento reuniu mais de mil participantes, entre decisores políticos, académicos, educadores, jovens e profissionais dos meios de comunicação, com o foco em explorar como a MIL pode orientar as sociedades a navegar pelos desafios da IA, preservando a agência humana e o pensamento crítico.
«Num tempo em que a inteligência artificial é capaz de criar, influenciar e até enganar numa escala nunca antes vista, a nossa maior defesa — e também a nossa maior esperança — reside na capacidade humana de pensar criticamente, sentir profundamente e agir com sabedoria. São estas as qualidades que nenhum algoritmo poderá replicar e que continuarão a definir, para sempre, o que significa ser verdadeiramente humano», referiu Tawfik Jelassi, Diretor-Geral Adjunto para a Comunicação e Informação da UNESCO.
A literacia mediática é o futuro
Na cimeira, emergiu uma convicção inequívoca: a literacia mediática e informacional deixou de ser uma opção — é uma necessidade estratégica para o século XXI. A MIL surge, assim, como o novo alicerce da educação, comunicação e cidadania digital.
Os especialistas presentes defenderam que educação, media e cidadania devem convergir para formar ecossistemas informativos mais sólidos e inclusivos. O objetivo é garantir que a tecnologia serve as pessoas, e não o contrário.
As ferramentas apresentadas durante a conferência, desde kits pedagógicos a plataformas colaborativas, reforçaram a ideia de que a literacia digital pode ser uma alavanca de transformação social e democrática, tornando as comunidades mais resistentes à desinformação e mais conscientes do impacto ético da tecnologia.
Um dos documentos em destaque foi o Indicators on Media and Information Literacy in Media: A Summary, que inclui eixos como a promoção da igualdade de género online e offline, adaptação às ferramentas de IA, formação e educação especializadas e uma interação estratégica e construtiva com as entidades reguladoras e autorreguladoras dos media.
Da educação à liderança: o desafio da era da IA
O segundo grande eixo do debate apontou para o papel das organizações e dos seus líderes. Para gestores, comunicadores e educadores, o desafio não é apenas implementar inteligência artificial, mas assegurar que as pessoas a compreendem, a questionam e a utilizam de forma responsável e estratégica.
A literacia mediática e informacional assume-se como um pilar essencial da transformação digital consciente, contribuindo para reduzir riscos reputacionais e fortalecer a confiança entre instituições e cidadãos.
No fundo, a conferência deixou uma mensagem clara: colocar a mente humana acima do algoritmo será o fator decisivo para liderar com relevância num mundo em mudança. Investir em literacia mediática é investir em pensamento crítico, empatia e ética — os elementos que, como lembrou a UNESCO, «nenhum algoritmo conseguirá replicar, e que continuarão a definir o que significa ser verdadeiramente humano.»
A voz dos jovens não foi esquecida
A conferência não esqueceu os mais jovens e arrancou o evento com uma sessão protagonizada por 16 estudantes de ensino secundário e universitário. Partilharam com milhares de outros jovens na Colômbia como a IA está a mudar as suas vidas e o que esperam do futuro digital. Esta iniciativa demonstra o novo protagonismo da juventude, não apenas como público, mas como agente da transformação.
Foi também adotada a Declaração de Cartagena sobre o Relançamento da Aliança MIL da UNESCO, reforçando a cooperação global e a agenda de literacia mediática para todos. O encerramento incluiu também a cerimónia de prémios do Youth Hackathon 2025, com jovens a apresentarem projetos inovadores que colocam a juventude no centro da agenda Minds Over AI.




