Coisas do último mês do ano. Escolho temas recentes nos quais ressoa o ano inteiro.
- Este foi mais um ano de guerras e sinais de guerra: na Ucrânia, na Palestina, no Sudão, na Venezuela. Homo homini lupus. Nada aprendemos.
- Na Austrália mais um atentado terrorista contra judeus. O antissemitismo anda à solta. Repito: ser a favor da Palestina não pode ser contra os judeus. Isto não é um jogo de futebol. Podemos ser a favor de ambos e contra Netanyhau e o Hamas.
- Nada de novo para quem já me leu: a guerra que Trump ia acabar em três dias ainda não acabou. A fanfarronice do homem também não. Está à altura da de Putin. Aliás quando a guerra acabar vai ser interessante conhecer os termos ditados por estes dois personagens.
- O governo Trump quer vasculhar as redes sociais de quem visitar os EUA. Salvo melhor opinião, o melhor é tentar não ir.
- O embaixador João Vale de Almeida explica em O divórcio das nações (Dom Quixote) como o século XXI desconstrói o século XX. Importante leitura para melhor compreender este mundo em que vivemos.
- 2025 foi, previsivelmente, mais um ano de greves. 2026 também vai ser. Algumas justas outras habituais.
- Como recentemente explicou Simon Baron-Cohen, Hans Asperger, o homem que deu o nome à conhecida síndrome, foi um colaborador dos nazis. Asperger terá enviado algumas crianças com autismo para uma ala hospitalar em Viena conhecida pelas suas práticas de eutanásia compulsiva. A polémica ativada por Donald Trump em 2025 sobre as causas da doença mostra como o autismo continua a ser usado com finalidades políticas. Triste.
- O mesmo Baron-Cohen recomenda que nos casos de autismo tipo 2, o importante é proporcionar vidas normais aos portadores da síndrome. Noto com orgulho que, neste sentido, o primeiro Café Joyeux numa escola, em todo o mundo, abriu na Nova SBE em Carcavelos. A escola inclusiva passa por aqui.
- Philippe Aghion, Nobel da economia deste ano, explicou que enquanto a esquerda francesa anda obcecada com os ricos ele prefere pensar nos pobres. Em Portugal também andamos nesse carril que Otelo tão bem explicou a Palme. Em 50 anos não aprendemos muito.
- Na Turquia, Erdogan mandou prender Ekrem Imamoglu, presidente da câmara de Istambul e seu rival político. O homem forte mostrou a sua fraqueza. O segredo de Imamoglu: escutar as pessoas e contrariar o populismo com “pessoismo”.
- Uma frase para fazer pensar: “os partidos portugueses, em linha com a tradição latina do Sul, vivem afogados em ideologia” (Sérgio Sousa Pinto). A ideologia, como qualquer crença, só é boa em doses moderadas.
- Quarenta e cinco anos depois é reeditado Francisco Sá Carneiro: Solidão e poder, de Maria João Avillez. Uma biografia para ajudar a conhecer um dos personagens-chave da nossa democracia.
- Na música descobri agora Le cri du Caire, de Abdullah Miniawy. Magnífico. Igualmente belo: Andrea Laszlo de Simone: Una longhissima ombra. Recomendado pela musa Zaho de Sagazan como podia não ser bom?
E pronto. Bom ano, com menos guerras, menos populismo e mais pessoismo.

