Durante demasiado tempo, confundimos educação com instrução. Reduzimos o ato de educar a um processo mecânico de transmissão de conteúdos, à preparação para exames, à corrida por classificações. Criámos escolas que ensinam a responder, mas raramente a perguntar. Esquecemo-nos, aos poucos, de que educar é, acima de tudo, formar seres humanos.
A escola tornou-se, muitas vezes, um lugar onde a curiosidade se apaga, onde o erro é penalizado, onde o silêncio vale mais do que a expressão. Onde se valoriza mais a nota do que o desenvolvimento emocional, mais a obediência do que o pensamento crítico. E depois, perguntamo-nos porque há tantos jovens a sentirem-se perdidos, desconectados, desmotivados. Mas o problema não é deles. É nosso. É de um sistema que se esqueceu do essencial: educar para ser, e não apenas para saber.
Precisamos urgentemente de reencontrar o verdadeiro propósito da educação. E isso começa por escutar as crianças, os jovens e as famílias. Começa por entender que, no mundo em que vivemos — e sobretudo no modo como o estamos a viver —, não bastará saber conteúdos. Será preciso saber ser. Ser íntegro, ser criativo, ser empático, ser colaborativo.
Fala-se muito de cidades do futuro, escolas do futuro, mas pouco se fala das pessoas do presente. E a verdade é que as escolas de amanhã terão de começar por ser comunidades que valorizam o hoje — espaços vivos de aprendizagem, de crescimento e de partilha, onde se cultivam as chamadas “competências do século XXI” — que eu prefiro chamar de competências humanas.
Competências como a curiosidade, que nos move a querer saber mais. O pensamento crítico, que nos ensina a questionar e a decidir. A criatividade, que nos permite imaginar soluções novas. E, claro, a empatia e a cooperação, sem as quais nenhuma sociedade será sustentável.
Vivemos em excesso de programação, demasiadamente orientados para o futuro, esquecendo-nos de viver o presente. O tempo. A relação. O vazio. O não fazer nada. O brincar. O deixar fluir. O deixar sentir.Precisamos de reencontrar espaço para o acaso, para a escuta, para o agora. Porque é no presente que se semeiam as raízes de um futuro mais consciente.
Esta é a educação que pode transformar o mundo. Não com fórmulas mágicas, nem com reformas avulsas, mas com uma mudança de olhar. Uma mudança que começa em casa, se estende à escola e se alarga à forma como organizamos as nossas comunidades e as nossas cidades.
Porque as cidades do futuro não se constroem apenas com tecnologia. Constroem-se com pessoas conscientes, comprometidas e compassivas — e isso começa na forma como educamos.
É tempo de fazer da educação um ato de amor com visão de futuro.
E de voltarmos a perguntar, com honestidade: Estamos a educar para quê? E, sobretudo, para quem?