Num tempo em que as fronteiras entre carne e código se esbatem, lembramo-nos de Donna Haraway e do seu manifesto ciborgue: já não somos seres ‘puros’, somos híbridos, interligados por tecnologia e desejo. É neste pano de fundo — onde ética, poder e imaginação se entrelaçam — que a inteligência artificial deixa de ser ferramenta para se tornar parceira. No fundo, é quase uma extensão do nosso próprio corpo.
Pedro Gomes entrou no palco da Leadership Summit Portugal com o título ‘The Human-AI Symphony: Orchestrating Intelligence for the Future’ como quem traz nas mãos uma pauta invisível, não de papel nem de tinta, mas feita de fios de futuro. E talvez por isso, ao começar a falar, fez parecer que cada frase não era apenas uma ideia, mas o compasso inicial de uma música que nos pertence a todos.
Um percurso com música de fundo
O CEO da Teleperformance em Portugal, reconhecido na indústria da gestão da experiência do cliente, começou a sua viagem desde cedo: aos 18 anos, como agente de contact center. Hoje, com mais de 23 anos de carreira, olha para trás e vê uma linha contínua de transformação. Da voz humana ao algoritmo, do gesto de empatia ao cálculo instantâneo de uma máquina.
«O nosso cérebro pequenino que cabe aqui dentro consome menos do que uma lâmpada LED, mas ainda assim é capaz de sentir e reagir a emoções», disse, olhando a sala. «É capaz de criar amizades, visionar o futuro, definir estratégias e mudar o mundo. Ao mesmo tempo, nos segundos em que falei convosco, a inteligência artificial processou milhares de milhões de pontos de dados.»
E é nesse contraste que assenta a sua metáfora central: a sinfonia. Não uma batalha entre instrumentos, mas um encontro. «Quando falamos de sinfonia do humano e da inteligência artificial, pensamos em músicos que tocam juntos, cada um com a sua paixão, criando harmonia. É essa a oportunidade que temos à nossa frente.»

Pedro Gomes explicou como esta visão já se materializa dentro da Teleperformance: desde avatares dinâmicos que formam colaboradores em 42 línguas e reduzem o tempo de aprendizagem, até copilotos virtuais que ajudam agentes a responder, em tempo real, a pedidos altamente complexos. O resultado não é apenas eficiência, mas também conforto para os trabalhadores e maior satisfação dos clientes.
«A inteligência artificial não substitui talento, amplifica o seu impacto», frisou. Mas a liderança, acrescentou, não pode cegar-se com o brilho dos números. «Os números inspiram, mas são as pessoas que mudam o curso. O cérebro humano cria confiança; a inteligência artificial dá-nos a escala para criar o futuro.»
Uma vida mais simples com IA
Num registo quase profético, defendeu uma abordagem ética e holística. «Não vamos andar com um martelo à procura de um prego. O que temos é um conjunto de problemas concretos e precisamos de saber como a tecnologia nos pode ajudar a resolvê-los. Sempre com humanos na decisão final.»
O discurso terminou onde começara: na música. Se a máquina traz densidade de informação, é o humano que traz a alma. E a pergunta que deixou a levitar no ar soou como o último acorde de uma sinfonia: «Vamos continuar a tocar a mesma música ou aceitar que a inteligência artificial está aqui para nos ajudar, talvez até a ter uma vida mais simples?»
Assista aqui ao momento completo:
Pedro Gomes – The Human-AI Symphony: Orchestrating Intelligence for the Future
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