“Tudo começa na maneira como as organizações são governadas. Se uma organização é governada de uma maneira em que há um profundo desprezo pela ética, não há ambiente, nem social que os valha”, as palavras são de Mário Parra da Silva, Presidente da APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial, que destaca o “G” das siglas ESG- Environment, Social and Governance.
No encerramento do evento ESG Week 2022, o debate sobre “A Ética como componente essencial na governação das organizações” contou ainda com a presença de Sara Teixeira, coordenadora de Sustentabilidade da COLEP e Telma Pinho, Chief Sustainability Officer da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), que deram os seus testemunhos relativamente à importância de as organizações terem um código de ética.
O mercado mudou, e uma empresa que não tenha integridade e transparência quanto aos seus valores será uma organização que não terá futuro. “As empresas têm de mudar, têm de se adaptar”, declara a coordenadora de Sustentabilidade da COLEP. “A questão da liderança e de dar o exemplo para nós é fulcral”, acrescenta. A mudança e a implementação do código de ética têm de partir dos líderes, cabendo-lhes assegurar que a cultura de ética está a ser desenvolvida, e que as pessoas que lá trabalham se sentem seguras e que acreditam nos valores da organização.
Muitas organizações em Portugal não valorizam a ética, são as chamadas “organizações predadoras”. Existe ainda um longo caminho para as empresas nacionais começarem a dar valor à ética e não a considerá-la um consumo de tempo e dinheiro, reflete Mário Parra da Silva: “Um dos grandes dramas da ética é que não se vê quando ela acontece, mas quando não acontece dá imensamente nas vistas, e normalmente dá cabo de uma organização.”
A sobrevivência das organizações, hoje em dia, é certamente assegurada pela ética, refere ainda, já que decisões eticamente orientadas garantem que a médio e longo prazo a organização persista. “É bom recordar que quase todos os grandes acidentes que abalaram terrivelmente as organizações ao ponto de as levar a desaparecer, não foram acidentes ambientais nem económicos, foram acidentes éticos.”
As empresas que têm um código de ética bem definido, terão sucesso garantido: “a ética é o motor”, assegura Telma Pinho. A ética nas organizações é algo que se vai trabalhando ao longo do tempo, são valores que são instaurados e pelos quais colaboradores e chefias se regem. Por isso, Sara Teixeira afirma “Isto não é um sprint, é uma maratona”.
Os instrumentos e ferramentas usados pelas empresas passam pela divulgação interna e formações, assim como atividades de brainstorming sobre dilemas éticos. Ao pensar mais frequentemente em problemáticas de cariz ético que possam surgir no local de trabalho, os colaboradores estarão mais aptos para saber gerir o assunto.
Os comités de ética internos são cruciais no que toca aos reports de questões éticas. Estes órgãos são transparentes, independentes e dando conforto dos colaboradores para reportarem qualquer situação em anonimato. Telma Pinho acrescenta: “estes comités têm a missão de alinhar a empresa com as melhores práticas da ética, dar o suporte à equipa da administração e à empresa como um todo”.
Por Denise Calado