Pedro Froes é CEO da grOW, uma agência de Publicidade sediada em Maputo, Moçambique. A experiência de uma Pandemia, em que o fim do negócio parecia estar à vista, revelou ainda a surpresa da capacidade de reação e adaptação dos negócios e das pessoas. Fazer acontecer, não desistir e a comunicação acima de tudo são as ferramentas para enfrentar uma crise num continente onde, definitivamente, tudo parece diferente.
Durante o período do primeiro confinamento, em março/abril 2020, Francisco X. Froes e Miguel Pina e Cunha entrevistaram 56 líderes/gestores de topo, das mais variadas áreas de negócios, visando encontrar padrões de comportamento suscitados pela pandemia e assim poder ajudar estes e outros líderes em crises futuras. A questão subjacente foi: quais as respostas das empresas à COVID-19?
A entrevista é parte do projeto editorial “Como 50 CEO reagiram à pandemia?”.
O que ouviste, quando e como?
Soubemos ao mesmo tempo que o mundo, a informação chega a todo o lado da mesma forma. Mas África não tinha casos diagnosticados e não teve durante algum tempo. E, enquanto não havia, as reações iam sendo lentas. Mas quando surgiram casos em Moçambique, a reação foi de pânico. Ter a “sorte” de estar neste último continente, na teoria, a ser afetado, permitiu-nos absorver a experiência do mundo antes de começar a acontecer cá.
Que preparação tinham? Improvisações?
Antes de ser decretado o Estado de Emergência, começamos a preparar a situação, com a redução faseada da equipa, testando e indo para casa aos poucos. Aqui, o maior problema da propagação são os transportes públicos e por isso fazíamos uma ronda para levar e trazer as pessoas a casa. Depois fecharam as fronteiras com a África do Sul e o Estado de Emergência instalou-se. Nessa altura, já só estávamos quatro pessoas a trabalhar na Agência. O trabalho remoto é difícil pela logística e a capacidade da internet, mas começamos a testar antes e agora está tudo mais operacional. Também com os clientes preparamos tudo com antecedência, tendo feito contatos individuais. Antes de sermos empresários, somos gestores, e antes mesmo somos pessoas e pré dispusemo-nos a trabalhar como equipa dentro do negócio dos nossos clientes. Tivemos muitas reuniões de planeamento e produção para se reinventarem os seus próprios negócios.
A vossa assinatura/lema? Ajudou?
24/7. Temos a sorte de sermos três sócios e três cabeças a pensar no negócio, com uma equipa sempre a acompanhar. O 24/7 é de facto uma cultura de disponibilidade dentro da agência. Por outro lado, somos 360º porque, aqui, o acompanhamento geral, de A a Z, é fundamental.
Primeiras reações e sentimentos?
A primeira reação: “Ai! O mundo não vai aguentar e nós não vamos aguentar”. A segunda reação: “Não desistir!” Se há alguma coisa que podemos continuar a fazer, vamos fazê-la. Depois passámos para a “despreocupação total”. Nós sabemos fazer isto, estamos dentro de um problema, continuamos a combatê-lo. Se cairmos, a “responsabilidade”, com umas grandes aspas, não é nossa. Vamos até onde pudermos ir, que é onde estamos agora. Houve redução do negócio, principalmente na media, mas não parámos, e agora está a retomar. Por exemplo, neste momento, as campanhas e comunicação para a Covid-19 duplicaram o ritmo de trabalho junto de alguns clientes.
Decisões em real time?
Quando soubemos que o Estado de Emergência vinha aí, ainda estavam onze pessoas na agência. Então, antes disso, foi parar, respirar e dizer: é hoje! Tudo o que tinha sido um treino passou a ser realidade, diferente da europeia, porque é Moçambique e isso exige outra logística. E agora? E a internet, a eletricidade, as reuniões? Respostas aos Clientes? Estratégia? Como vai acontecer? Não houve muito tempo para pensar, era fazer, com a comunicação no topo do que tinha de ser feito. Para que houvesse entendimento, comunicar era mais importante do que o próprio trabalho. Outra reação foi tomar a iniciativa de entender a dor do cliente e reduzir, nós, antes do cliente, a carga dos nosso fees, principalmente naqueles que sabíamos que poderiam sofrer mais. Já tínhamos calculado, vamos faturar menos, mas vamos avançar assim.
Preocupações estratégicas a curto e médio prazo?
No curto prazo ouvir o cliente. Ouvir, ouvir, ouvir. O que são as dores e como vamos passar a comunicar. No médio, reajustar, falar e continuar a ouvir diariamente os clientes. Dessas conversas, em alguns casos, onde o negócio parou, planeamos e virámos as suas campanhas, vendas, processos e atendimento para o online.
A longo prazo é, novamente, ouvir os clientes. O mercado está em evolução. Temos de ouvir o cliente e o consumidor. Temos de ouvir e sentir o mercado.
Como é que isto vai reequilibrar a hard part e a soft part?
Na componente do negócio, somos muitos contidos e não demos, até hoje, passos maiores do que as pernas. O custo base da agência, o hardware, não vai sofrer grande coisa. As rendas vão ter de baixar, claro. Renegociámos o possível com fornecedores e baixamos os nossos salários, só os dos sócios. Conseguimos assim equilibrar com a redução do fees. Para mim, na componente humana da agência, é muito importante estarmos no escritório, as pessoas saberem que estamos lá, olhos nos olhos a sentir o que se passa. O benefício que retiramos, é saber que, hoje, se alguém tiver um problema, já sabemos que pode se trabalhar em casa.
Descoberta mais surpreendente?
Não estávamos à espera de conseguir reagir e já saíram campanhas, filmes, media, ou seja, pelos vistos, as coisas continuam a fluir. Essa foi a grande surpresa. E depois a reação dos nossos clientes às nossas reuniões para reinventar os negócios. Os clientes continuam a considerar isto sob um ponto de vista positivo e isso é também uma surpresa para nós. Estávamos à espera de tudo isto acabar, mas não.
O que aprendeste. A grande lição?
Acalmei. Percebe-se que o sentido do imediatismo e da urgência desacelera. Se planearmos, o “plano B” passa a fazer parte integrante. Estando em casa há mais coisas para fazer e o resto não se atrasa por causa disso. Ao fim de uns dias já está tudo a fluir e é normal o filho entrar no quarto/escritório. Um aspeto muito positivo é não ser preciso estar o tempo inteiro online, de cabeça, neste caso, mas de sentimento. É preciso reagir ao que é preciso fazer.
O que passas ao teu filho?
Não pensei nisso. Vou dizer-lhe que houve uma altura em que ele desesperou (e eu também) e se revelou uma criança muito ativa, por culpa de um coronavírus, que lhe tirou a estabilidade, as rotinas. A ele e ao mundo todo!
O Covid 19 numa palavra?
Assim de caras, não a posso dizer aqui. Mas se ponderar: Learning.
Obrigado