Os investidores dos mercados privados esperavam uma recuperação em 2023, mas as dificuldades prolongaram-se o que deixa para este ano uma perspetiva de crescimento incerta, com especial peso na angariação de fundos, na atividade de negociação e no desempenho.
A inflação sofreu uma moderação, mas permaneceu elevada em relação aos padrões históricos recentes. As taxas de juro, inicialmente altas, subiram ainda mais, aumentando o custo do financiamento. Essencialmente, uma série de ventos macroeconómicos contrários têm desacelerado os mercados privados.
Estas são parte das conclusões do “Global Private Markets Review”, realizado pela McKinsey, cuja análise das razões e consequências da retração dos mercados partilhamos na Líder.
Declínio global da angariação de fundos
A angariação de fundos em todas as classes de ativos do mercado privado caiu 22%, para um valor de pouco mais de mil milhões de dólares, representando os números mais baixos desde 2017. A América do Norte registou um declínio acentuado, mas a Europa mostrou mais resiliência, com uma diminuição de apenas 3%. Já na Ásia, a angariação de fundos caiu 72% em comparação com o seu pico, em 2018.
Apesar das difíceis condições para captar investimentos, estas adversidades não afetaram todas as estratégias ou gestores da mesma forma. As estratégias de aquisição de private equity registaram o seu melhor ano de sempre e os veículos financeiros de maiores dimensões também se saíram bem.
O “efeito numerador” persiste
Apesar de uma melhoria significativa no denominador – o total de ativos disponíveis para investimento – os 1000 maiores fundos de pensões dos EUA registaram um crescimento de 7% até ao final de setembro de 2023, recuperando de um declínio de 14% no ano anterior. No entanto, apesar desta recuperação, muitos Limited Partners (LPs) ainda se encontram sobre-expostos aos mercados privados, em comparação com as suas alocações-alvo. Os LPs começaram 2023 com alocações acima dos níveis-alvo, particularmente em private equity, infraestrutura e imóveis.
Entretanto, o numerador, que representa o valor dos ativos já investidos, continuou a aumentar ao longo do ano devido à falta de saídas e ao aumento das avaliações. Apesar dos desafios, inquéritos recentes sugerem que os LPs ainda estão empenhados nos mercados privados, com muitos a planearem manter ou aumentar as suas distribuições de recursos a médio e longo prazo.
Nomes e fundos conhecidos atraíram mais investimentos
Os investidores tenderam a favorecer os administradores de fundos de maior dimensão, o que conduziu ao nível mais elevado de concentração da angariação de fundos em mais de uma década. Os 25 maiores angariadores de fundos recolheram 41% dos compromissos agregados, com os maiores gestores a representarem uma parte significativa deste total.
Enquanto os maiores fundos cresceram ainda mais – os maiores montantes registados foram angariados em aquisições, imobiliário, infraestruturas e dívida privada em 2023 – os fundos mais pequenos e mais recentes tiveram dificuldades. Nesta categoria, apenas 1.700 fundos na ordem dos mil milhões de dólares atingiram os seus objetivos de financiamento durante o ano, o que representa metade do número de fundos concretizados em 2022 e o valor mais baixo em quase uma década. A formação de novos administradores de fundos também caiu para o nível mais baixo desde 2012, com apenas 651 novas empresas lançadas em 2023.
Aumento do inventário de dry powder
Em meados de 2023, os ativos dos mercados privados ostentavam 13,1 mil milhões de dólares, com uma taxa de crescimento anual constante de quase 20% desde 2018. As reservas de dry powder – o montante do capital autorizado, mas ainda não utilizado – aumentou para 3,7 mil milhões de dólares, um crescimento que se verificou pelo nono ano consecutivo. Este aumento das reservas de dry poder indica que existe um excedente de capital disponível para investir.
O Valor Líquido do Ativo (NAV) cresceu também, em grande parte devido à relutância dos gestores em abdicar das suas posições e cristalizar os retornos num ambiente onde os preços estão baixos.
Estratégias divergentes de capital de risco
Enquanto as estratégias de aquisição registaram o seu melhor ano de sempre, em termos de angariação de financiamento, os valores de capital de risco diminuíram significativamente. Os volumes de negócios de aquisições diminuíram, mas permaneceram relativamente ativos, enquanto a captação de recursos de capital de risco (VC) diminuiu quase 60%.
Os fundos de VC registaram um retorno de -3% até setembro, somando-se aos retornos negativos verificados durante sete trimestres consecutivos. O VC foi a estratégia de participação privada com o crescimento mais rápido – bem como a de melhor desempenho – por uma margem significativa de 2010 a 2022, mas os investidores parecem estar a reavaliar a sua abordagem no ambiente atual.