Quais as consequências do confinamento pandémico para o desenvolvimento de competências sociais e relacionais dos estudantes do ensino superior, quando iniciam a sua vida profissional? A evidência é ainda escassa para responder perentoriamente à questão. Mas um trabalho publicado recentemente no Financial Times (2 de maio) faz alguma luz sobre a matéria. Informa a reportagem que a Deloitte e a PwC estão a facultar formação adicional a recém-formados cujo processo educativo foi afetado pelo confinamento durante a pandemia. Razão: estes jovens carecem de competências de comunicação e de trabalho em equipa. Embora sejam mais capacitados para trabalhar independentemente, são menos autoconfiantes para fazer apresentações em público, expressar a sua voz durante as reuniões, e desenvolver redes de relacionamento e trabalho colaborativo com outros membros da organização. Esta evidência suscita-me três reflexões – que pouco ou nada têm a ver com a pandemia.
Primeira reflexão: é cada vez mais claro que uma certa fascinação com o teletrabalho, a qual resultou das experiências durante o período pandémico, incorpora riscos. O trabalho de uma equipa não resulta da mera soma dos trabalhos dos seus membros. As interdependências implicam esforços de cooperação e coordenação que requerem competências sociais-relacionais. A criatividade e a inovação também beneficiam dos encontros presenciais, mais ou menos espontâneos, que ocorrem no quotidiano de qualquer organização.
Segunda reflexão: o trabalho presencial, diferentemente do realizado no nosso “cubículo virtual”, submete o nosso cérebro a maior quantidade e diversidade de estímulos, e pode ser uma fonte de energia emocional e relacional. O recato do nosso “cubículo” pode contribuir para a nossa concentração e afastar-nos de distrações desnecessárias – mas pode também dificultar o trabalho em equipa.
Terceira: uma parcela significativa das competências sociais-relacionais, que são essenciais ao trabalho em equipa, desenvolvem-se com a prática. Mesmo antes da pandemia, muitos estudantes universitários ingressavam na vida profissional desprovidos de qualquer experiência de trabalho. Tanto as famílias como as instituições de ensino superior poderiam/deveriam valorizar, de modo mais enfático, essas experiências durante as férias e os fins-de-semana. Colocar as “mãos na massa”, durante o período em que se frui de educação superior, pode ser menos prazeroso do que fruir dos “prazeres da vida”. Mas é educativo. A execução de trabalhos mais “modestos”, inclusive tarefas manuais, durante esses períodos acarreta uma vantagem adicional: consciencializar os estudantes de que, quando vierem a exercer funções de liderança, devem respeitar e valorizar as pessoas que executam esses trabalhos “modestos” e mal remunerados. Essa pode ser uma boa forma de os estudantes tomarem contacto com o “mundo real “– um desafio que as instituições de ensino superior são por vezes acusadas de não ensinar a enfrentar. Importaria, pois, que o desenvolvimento de competências sociais não ficasse confinado ao espaço dos campi universitários (e, pior, à desvergonha de algumas praxes académicas, perdoe-se-me o despropósito).