Nos últimos tempos tem havido muitos apelos pela paz. Junto-me a eles. Para que a guerra acabe basta que Putin pare a guerra. Como disse Severiano Teixeira, se for a Ucrânia a acabar a guerra é a Ucrânia que acaba, não a guerra. Ao mesmo tempo que os compreendedores de Putin clamam pela paz, o que faz o imperialista de Moscovo? Atua em múltiplas frentes:
- Na frente da imprensa, mandou o FSB prender Evan Gershkovich, correspondente do Wall Street Journal. Vladimir Kara-Murza, colunista do Washington Post, foi condenado a 25 anos de prisão. Depois de ter silenciado os media locais, Putin quer agora calar a imprensa internacional que resta em Moscovo. Sabe-se que o processo não é novo e que calar jornalistas é uma prática antiga. Os meios também são conhecidos – se for preciso a tiro. Não é de agora.
- Na prisão, o estado de saúde de Alexei Navalny parece deteriorar-se rapidamente. Terá perdido nas últimas semanas mais de oito quilos. Há suspeitas de que esteja a ser envenenado, as quais em boa verdade não surpreendem ninguém. Se, como é provável, Navalny morrer na prisão, o regime apresentará uma doença. Nós estaremos cá para lembrar o nome de um regime que prende e mata os que se lhe opõem.
- Na sociedade, os que se atrevem a discordar desaparecem, caem de prédios, morrem de doença súbita. Nós já sabíamos, mas a peça de Luís Francisco, no Expresso, juntando os factos é impressionante. O Kremlin tornou-se o centro de um regime sem qualquer tipo de escrúpulos.
Também eu, como toda a gente, desejo a paz. Mas será a paz possível com Putin? Parecem de volta os tempos da construção de uma nova cortina de ferro, tão bem discutida por Anne Applebaum, precisamente em A Cortina de Ferro.
Aparentemente todos queremos a paz menos o homem que pode acabar a guerra mas que prefere não o fazer, mesmo fazendo da Rússia um estado vassalo da China.
PS1: A Rússia foi condenada pelo Tribunal europeu dos Diretos Humanos a indemnizar a Geórgia. O país terá tolerado o assassínio de civis, saque de cidades, tortura, detenções arbitrárias. Foi em 2008.
PS2: Existem suspeitas de que o famigerado grupo Wagner estará a apoiar paramilitares no Sudão. Nada de inesperado.