“A produtividade e a felicidade estão muitas vezes ligadas. Pessoas infelizes normalmente são menos produtivas”, aponta João Falcato, CEO do Oceanário de Lisboa. Em conversa com a psicóloga Sónia Gonçalves, no “Isto é Psicologia”, um Podcast da Ordem dos Psicólogos Portugueses, o “Bem-Estar e Produtividade nos Locais de Trabalho Saudáveis” foi a temática para a discussão da importância de um local de trabalho saudável como garantia de maior produtividade e sustentabilidade das organizações.
Para João Falcato, a felicidade é, tal como outros aspetos, cíclica, e “é necessário aprender a gerir estes ciclos, priorizando os positivos e agir para que os baixos desapareçam o mais rapidamente possível”, o que se reflete automaticamente na capacidade de produção.
As estratégias que a Psicologia sugere às empresas para garantir o bem-estar ao trabalhador, consideram a liderança como fator chave. Segundo Sónia Gonçalves, “é necessário ser mais sensível e atento ao estado do trabalhador, abordando as suas necessidades consoante as suas condições”.
Fomentar o espírito de equipa através de iniciativas e espaços de “não trabalho”, mesmo que à distância, contribuem também para uma boa performance. Acrescentando ainda que são necessárias pausas para recuperação psicológica, e, acima de tudo, formar e informar os trabalhadores em relação à sua condição mental. “Validar o que sentem reduz a ansiedade e deve ser considerada uma norma”, reforça.
É papel do Psicólogo reconhecer a empresa e a situação em que esta se insere, para poder fazer uma avaliação mais específica e procurar soluções que promovam um ambiente saudável e produtivo. Para Sónia Gonçalves não existe “uma solução universal, um método que tenha sido eficaz numa empresa pode não ter o mesmo efeito noutra”. Há que considerar uma interação constante com a organização e o trabalho que vai sendo feito. “Manter o foco interno na organização e nos trabalhadores e, ao mesmo tempo, não esquecer o seu contributo para a sociedade”, é essencial, afirma.
Para espaços de trabalho mais saudáveis é necessário também detetar e estar alerta ao estado dos seus colaboradores. João Falcato garante não haver um processo específico, e que “a chave é criar um à vontade, uma cultura de abertura”. Na sua opinião, a prevenção é fundamental, como o apoio psicológico que o Oceanário deu aos seus funcionários no regresso ao trabalho, bem como praticar a confiança no dia-a-dia.
Ambos concordam que tem de haver uma consciência das características da empresa e como esta se pode adaptar às circunstâncias. Nem todas as empresas têm a capacidade de dar uma resposta rápida às adversidades, por falta de meios e, em contexto de pandemia, nem todos os setores puderam operar em regime de teletrabalho. João Falcato dá como exemplo o Oceanário, que sofreu impactos diferentes em diferentes setores, sendo que a área da Biologia apresentava maiores riscos e maiores implicações nos seus trabalhadores. Os peixes tinham de ser alimentados diariamente, no entanto o contacto entre trabalhadores tinha de ser restrito, o que teve consequências na interação entre as pessoas. O principal foco, no entanto, manteve-se nos trabalhadores. “Houve vários meses em que gastámos mais em testes e equipamentos de segurança do que faturámos (…) Temos a sorte de ter um acionista e um grupo que foi claríssimo: a prioridade são as pessoas”.