Em 2019, meses antes de o planeta sucumbir à Pandemia Covid-19, Marian Salzman publicou um relatório em que antecipava que 2020 seria o ano do caos e do “novo normal” – uma expressão que acabou por ganhar um novo significado quando o confinamento geral se impôs como estratégia contra um vírus desconhecido.
A Senior Vice President para a área de Comunicação da Philip Morris International (PMI), além de uma das mais reputadas especialistas em comunicação do mundo, é também uma conhecida trendspotter que identifica as tendências que vão marcar o futuro. Agora, prestes a entrar em 2022, Marian Salzman apresenta o novo relatório de tendências 22 Trends for 2022 – Measuring up what we thought we knew disponível online e cujos principais highlights foram recentemente partilhados num encontro virtual.
“Apesar de tudo, 2021 não foi um ano bom, trouxe mais dores de cabeça, ansiedade, uma luta contra uma nova variante”, diz a trendspotter, mas, por outro lado, fez realçar um maior sentido de comunidade, de um “we over me” (nós em vez de eu). O grande reset feito em 2020, que resultou na “great resignation”, um fenómeno do mundo ocidental, entre os EUA e a Europa, fez-nos reavaliar as prioridades, tanto da vida pessoal como profissional, e procurar a mudança.
E quanto a uma nova função/ profissão para 2022, Marian Salzman aponta o cargo de Chief Cohesion Officer (COO), um responsável pela coesão e ligação dos novos espaços de trabalho.
Eis são alguns dos pontos chave do relatório:
– Caos e incerteza: Das lições que retiramos deste último ano que passou é a de que “a única certeza que fica é a incerteza”. Mais do que nunca é necessário trazer ordem para o caos, entre uma Pandemia que não é só sanitária, mas de ansiedade, angústia e incerteza. Para a responsável da PMI, “tudo vai-se tornar mais complexo e mais caótico”. “Devemos aceitar a complexidade como a norma e a angústia como o novo normal”, refere, indicando que não há forma de “domesticar” o fenómeno, temos, por sua vez, de encontrar pontos de contacto, de calma e clarividência. Técnicas de relaxamento, novas formas de terapia, a procura por medicação psicotrópica é uma linha que vai seguir pelo ano 2022
– Stress e saúde mental: É uma tendência global o assunto da saúde mental, ou da sua ausência, que cada vez mais afeta todas as dimensões da sociedade. Estamos perante uma “segunda Pandemia”, conforme refere, “das doenças do desespero”, o que vai trazer novas formas de abordagem, programas, ferramentas, e tecnologias que enfrentem a ansiedade e a depressão e fomentem uma boa saúde mental. E principalmente no mercado de trabalho. A expressão “minding the minds” (preocupação com as mentes) ganha força em 2022, com as empresas a colocar o foco na saúde mental dos seus colaboradores. O que, paralelamente, irá reajustar todo o modelo de trabalho.
– Flexibilidade: À medida que os escritórios reabrem, fecham e espera-se que reabram novamente, as pessoas vão dar preferência às profissões mais flexíveis. Quanto a outro tipo de trabalhos, como serviços, professores e profissionais de saúde, vão-se questionar se querem permanecer nesses campos. “As pessoas procuram compromissos profissionais em que se sintam melhor- mesmo que ganhem menos, mas tenham mais flexibilidade, ou um propósito empresarial que vá além do lucro”, afirma. Em 2022 muitas pessoas vão questionar o que querem do trabalho ou o que estão dispostas a aceitar. Os novos modelos de trabalho não são uma coisa passageira, vieram para ficar. Na PMI foi desenvolvido um plano global “Smart Work”, em que os colaboradores podem decidir entre hibrido, remoto ou presencial. “ Se dermos essa escolha, atraímos e retemos o melhor talento e até aumentamos a produtividade”, realça.
– Tecnologia: Avatares e metaverso deixou de ser uma linguagem do futuro. Ao mesmo tempo, fazemos pagamentos sem dinheiro ou cartões, usamos as bitcoins ou promovemos festas de família via zoom. Enquanto a procura pelos bens está a aumentar, não havendo um fornecimento que responda às solicitações, para Marian Salzman a tendência será a impressão de bens em 3D.
– As cidades e infraestruturas: Viver numa cidade é essencial para a carreira profissional? O ano 2020 veio dar uma alternativa a uma vida fora dos centros urbanos, a quem pode suprimir as deslocações para os empregos. As cidades estão, por isso, a reinventar-se, a procurar formas de se tornar mais atrativas, com menos carros e poluição, mais espaços verdes e casas acessíveis, e mais opções de micro mobilidade: as chamadas “cidades 15 minutos”, em que tudo o que precisamos está à distância de um quarto de hora, a pé ou de bicicleta.
Uma outra preocupação tendência, na malha urbana e na vida das comunidades em todo o globo, é a água – a sua gestão, enquanto recurso essencial e a sua escassez. Por outro lado o enfraquecimento da circulação meridional do Atlântico (AMOC), que sustenta a Corrente do Golfo, vai fazer com que os invernos sejam mais frios e ocorram mais tempestades.
– Iniquidade e desigualdade: “Estamos na mesma tempestade mas não no mesmo barco”, diz a trendspotter, afirmando que apesar de todos querermos um mundo melhor e mais justo, os privilégios e as oportunidades não são iguais. “Após décadas a aceitar ‘as coisas como são’, o público está cada vez mais sensibilizado para as desigualdades e menos tolerável a elas”, conclui.