As mulheres continuam muito sub-representadas no comentário político em todos os meios de comunicação portugueses. A paridade de género dos comentadores políticos tem aumentado na televisão, rádio e meios online, com um ritmo lento e pouco consistente.
As conclusões são do novo relatório “Comentário político nos media 2023”, elaborado pelo MediaLab Iscte, que revela uma desigualdade que tem sido a regra ao longo dos últimos anos. Este é o primeiro relatório que inclui dados relativos à rádio e meios online.
Os dados recolhidos para o comentário político televisivo nas sucessivas edições do relatório – 2016, 2019, 2020 e 20221 – permitem destacar o crescimento do número de comentadores políticos residentes, “fixos”, com espaço de opinião semanal. Dos anos analisados, 2022 foi aquele em que foram identificadas mais mulheres a dar a sua opinião política com regularidade na televisão: 28%.
Com dados recolhidos entre os dias 15 e 31 de maio de 2023, a nova edição do estudo abrange uma variedade de canais televisivos (RTP1, RTP2, SIC, TVI, RTP 3, SIC Notícias, CNN Portugal, CMTV), estações de rádio (Antena 1, Rádio Observador, Rádio Renascença e TSF) e órgãos de comunicação social de meios online (Público, Expresso e Observador).
Na edição de 2023 identificaram-se 78 comentadores políticos em nove canais de televisão, 90 em quatro estações de rádio e 46 em três meios online, totalizando 214 comentadores políticos que formam o objeto de estudo.
Do parlamento à televisão, o panorama político é dominado por Homens
A população portuguesa é composta por 52% de mulheres e o parlamento conta com 37% de representantes femininas. Da mesma forma, os homens estão em maioria em todos os meios de comunicação, no que toca ao comentário político.
Segundo a análise, a televisão conta apenas com 24% de comentadoras, a rádio com 34% e os meios online com 19%. No total dos espaços de comentário político nacional, em 2023, apenas 28% eram ocupados por mulheres, sendo a rádio o meio onde existe maior representatividade feminina.
Nos vários canais de televisão, é notória a disparidade de género no comentário político. A CMTV, SIC e TVI não tinham mesmo nenhuma comentadora fixa, e a RTP1 e RTP2 tinham apenas uma. A RTP3, SIC Notícias e CNN Portugal foram os canais mais paritários.
Também nas rádios e meios online se verificou esta disparidade. Em 2023, a Rádio Renascença e Expresso eram os meios onde havia maior disparidade. Antena 1 e TSF são as que se apresentam com maior equilíbrio de género.
Nos meios online o Público é o que dá mais espaço às mulheres que, mesmo assim, apenas representam próximo de um terço do comentário político. O Observador, tanto online, como rádio privilegia, em proporção quase igual, um maior número de comentadores masculinos.
Mulheres à esquerda e Homens à direita
Ao longo de 8 anos de maioria à esquerda no Governo, o comentário político em televisão tem sido marcado por uma ligeira vantagem da representação da direita, com mais comentadores desse espectro político, com exceção do ano de 2016 em que o equilíbrio era favorável à esquerda. O ano 2023 é aquele que regista um maior desequilíbrio, com 37 comentadores de direita face a 25 de esquerda.
Dos 78 comentadores políticos, 25, ou seja, cerca de um em cada três, são reconhecidos publicamente como militantes num partido político. Entre estes comentadores, 10 são militantes do PSD, 10 do PS, 3 do CDS-PP, 1 do PPM e 1 do BE.
Por outro lado, mais de metade do total de comentadores (43 em 78), podem ser associados pelo público a um partido político. Se aos 25 comentadores militantes forem acrescentados os 19 que têm uma conotação pública a um determinado partido, seja por serem ex-militantes, ex-membros de governos, independentes que já integraram listas partidárias, ou antigos assessores políticos, identificam-se 44 comentadores (56%) que podem ser considerados próximos de partidos na perspetiva dos cidadãos.
A análise mostrou que em todos os meios se verificou um posicionamento mais à esquerda das mulheres e mais à direita dos homens, em todos os meios.
O alargamento do número de comentadores tem aumentado a dificuldade em identificar o seu posicionamento político, crescendo a categoria daqueles a quem não foi possível atribuir uma orientação política. Este crescimento dos casos considerados “não identificável” politicamente nos últimos dois anos resulta sobretudo do maior protagonismo conferido aos jornalistas em espaços de opinião.
Consulte o estudo completo aqui.