Pedro Vicente, é o Diretor Científico do Centro NOVAFRICA, criado pela Nova SBE com a missão de produzir e difundir conhecimento para o desenvolvimento económico e empresarial em África. O intuito é gerar evidência e suporte para as decisões de políticas públicas, como também a partilha e divulgação das melhores práticas.
«Vejo o meu trabalho como um trabalho de educação, onde quero gerar mais interesse em África e nestes problemas. Porque estes são os grandes problemas do nosso Mundo que afetam milhões de pessoas», refere.
O enfoque está na África de Língua Portuguesa (PALOPS), em países como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Economista de raiz, com mais de vinte anos de trabalho de pesquisa sobre o desenvolvimento económico em África, descreve o seu trabalho com paixão e simplicidade:
Os Economistas do desenvolvimento são como os médicos de clínica geral da Economia, fazem um bocadinho de tudo
Numa breve conversa com a Líder, o Professor Catedrático de Economia explicou como funciona a Instituição, partilhou alguns exemplos e a sua visão sobre o futuro do Continente – onde está, afinal, a chave para desbloquear a questão africana?
Centro NOVAFRICA – como funciona?
Tipicamente, um projeto desenvolvido pelo Centro é uma avaliação de impacto de uma política pública, ou privada, com um interesse público. Para a sua concretização existe uma colaboração com a instituição interessada que é o implementador. Nas experiências de campo, são identificados os efeitos dessas políticas nos beneficiários e comparados os grupos-alvo da iniciativa com grupos de controlo.
Guiné-Bissau
Na Guiné-Bissau, o maior projeto a decorrer tem o enfoque sobre a saúde comunitária onde a situação, em termos de saúde materno infantil, é muito precária, o que coloca o país no top dez dos piores indicadores de saúde a nível mundial.
«As pessoas usam ainda muito a saúde informal e tradicional. Não vão aos centros de saúde, têm os bebés nas Tabancas, não têm vacinas», descreve Pedro Vicente.
Com o apoio do Ministério da Saúde e da ONG portuguesa Vida, são testados sistemas de incentivo para agentes de saúde comunitária que fazem a ponte de ligação entre as aldeias e os centros de saúde.
Moçambique
O enfoque tem sido na área de prevenção de conflitos, nomeadamente em Cabo Delgado, onde com a parceira do Conselho Islâmico de Moçambique, estão a ser realizadas várias campanhas de sensibilização religiosa, nomeadamente entre os jovens nas Madraças. «É a religião que está a mobilizar as pessoas para o conflito. Estamos a tentar prevenir a mobilização com base na religião e a tentar diminuir a radicalização.», explica Pedro Vicente.
Na região de Quelimane há uma parceria de longa data com o Presidente do Município, Manuel Araújo, onde estão a desenvolver uma série de projetos de integração de migrantes rurais na cidade. O objetivo é integrar esses jovens, que vêm das aldeias, na cidade e no mercado de trabalho.
«Acreditamos que é preciso tirar as pessoas dos ciclos de pobreza rurais, que são ciclos muito associados à agricultura de subsistência. O desenvolvimento rural é um mito. Tem de se tirar os jovens do ambiente rural e passá-los para a cidade, mesmo que isso venha com problemas», alerta o professor.
Onde está a chave para desbloquear a questão africana?
Pedro Vicente responde: «Essa pergunta é a mais difícil de todas e eu não sei se vou ter uma resposta». Mas tem havido luzes no caminho, com soluções que provocam mudanças, que, apesar de pequenas, promovem o avanço, mas não por isso deixam de dar a sensação de se estar a mover uma enorme montanha.
Contudo, também acontecem as grandes revoluções que dão alento ao Economista, como a introdução da ferramenta Mobile Money, no Quénia em 2007. Um jovem que sai da aldeia para ir para a cidade, para ter uma vida melhor e um emprego, consegue agora facilmente mandar dinheiro de volta para os seus pais, com um custo muito pequenino.
Antes, pagava-se entre 20 e 30% do valor das transferências que se fazia da cidade para o campo. Com esta solução, passou-se de um cenário de 10% de pessoas, em média, com acesso a contas bancárias para uma média, entre 30 e 40%.
Tal como explica:
Num país onde 70% das pessoas fazem agricultura, algo está mal. E é uma agricultura super improdutiva, talvez das mais improdutivas do mundo. Colocar as pessoas na cidade é uma melhoria, é um passo no sentido do desenvolvimento do país.
E acrescenta: «Esta mudança é uma força de mudança estrutural da Economia. Não estou a dizer que a vida na cidade é simples e também não digo que as pessoas devem vir todas para a cidade», conclui.