Não acredito nas ideias, acredito nas pessoas, escreveu Houllebecq em Alguns meses na minha vida (Guerra e Paz). A crença em ideias pode ser altamente problemática. Há umas semanas esteve em Portugal uma figura das ciências sociais muito apreciada por um grupo de apaniguados que prescrevem as suas teses como a Verdade. Para evitar chatices não a vou nomear – é um daqueles casos que, com azar, dá direito a uma ida ao pelourinho das redes sociais. Prefiro evitar. Ora a visita coincidiu com a minha leitura de um texto de um autor que muito aprecio: Manfred Kets de Vries, um professor do Insead, uma escola de gestão em França.
O texto discute a estupidez humana na era da pós-verdade. Diz, entre outras coisas, que a ideologia tem sido referida como “a ciência dos idiotas”. Citando o escritor de ficção científica Isaac Asimov, acrescenta que não existem crenças, por mais disparatadas, que sejam incapazes de congregar um conjunto de aderentes que as defenderão até à morte.
As ciências sociais parecem-se por vezes com um campo onde ideólogos disfarçados de cientistas plantam as suas ideias. Depois, defendem-nas com veemência. Como se trata de ideias não científicas (verdades), são inverificáveis e não testáveis empiricamente. Ora, a primeira obrigação de um cientista é duvidar das suas teorias. Quando se encontra um que as defende como vacas sagradas, importa desconfiar. Até porque, acrescenta Kets de Vries, como não faltará quem acredite, arriscamos acabar rodeados de estúpidos e, por isso, por sermos confundidos com eles.