Considerada uma das personalidades mais influentes no desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), especializada em human-computer interaction, Daniela Braga é fundadora e CEO da Defined.ai, uma das startups de referência nesta área. No encontro “Meet the Global Thought Leaders”, promovido pela Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, a conselheira do Presidente Joe Biden partilhou as principais tendências da IA.
“A Inteligência Artificial vai de longos invernos para verões muito rápidos. Houve um grande salto no ano 2010 com o cloud computing e o aparecimento da Siri, e agora, em 2022, após um longo inverno, surge uma democratização do awareness”, refere.
Tal awareness vem, na sua opinião, a partir do momento em que Elon Musk investe mil milhões de dólares na Open AI e a Microsoft 10 mil milhões. “O chatGPT está no boca do mundo, o que é bom”, diz.
“Há uma desmistificação do AI em que as pessoas finalmente percebem que há uma utilidade. A Inteligência Artificial é a nova fronteira do conhecimento, e o conhecimento é um dos direitos democráticos mais importantes”
Cinco tendências de IA
Ascensão do Natural Language Processing (NLP) e das interfaces de voz
Daniela Braga destaca a continuidade do crescimento das interfaces de voz aplicadas a múltiplos fins (IA conversacional), referindo o projeto cofinanciado pelo governo português, no âmbito do PRR, no qual a Defined.ai é líder do consórcio.
Apesar de não ser uma tecnologia nova, é cara e há poucos sistemas no mercado, estando com este projeto a “torná-la modelar e smart data driven”, em que o objetivo “não é criar large language models, o que traz a questão da sustentabilidade”.
Relembrou a notícia do engenheiro da Google despedido por dizer que a tecnologia de IA, LaMDA, estava a tornar-se senciente. Daniela Braga é perentória, “é claro que não é senciente”. A questão está na quantidade de acesso a dados, que leva a “muita confusão nas previsões” (predictions), e, por isso, “smart e small é mais preciso para domínios específicos”, esclarece.
Reforça também a investigação feita em torno do NLP que comprova a ajuda em áreas como experiência de cliente, sumarização, tradução automática, chat bots referindo ainda as vozes sintéticas cada vez mais realistas. “Está-se a ver uma maturidade muito maior nas tecnologias, de uma forma que é quase indistinguível dos humanos”, diz.
Conteúdos baseado em IA
Com cada vez mais conteúdo gerados por IA, “temos de ter espirito crítico para perceber de onde vem a informação e questionar a fonte”. A questão da “explainability” da IA relaciona-se não só com a credibilidade e veracidade da fonte, como também tem a ver com o seu consentimento.
Para a Defined.ai, que se afirma como uma empresa “ethical AI born”, esta área é especialmente relevante. A fonte e o consentimento dos dados é uma das grandes questões da atualidade, refere, chamando a atenção para a ascensão dos dados sintéticos, que levam à necessidade de validação das fontes.
Consolidação de mercado
Atualmente, a IA só tem dois polos de investimento no mundo: EUA e China. Apesar do ano 2022 ter tido menos investimento, “o que se está a ver é uma consolidação de geografias”, para além de “uma guerra de geografias e de talento entre EUA e China”. “Ao nível da indústria vê-se mais fusões e aquisições de empresas mais pequenas, e uma maior consolidação nas big five tech. Poucas empresas em AI têm feito ofertas publicas ou spacs (special purpose acquisition). As empresas são compradas antes de chegar a esse ponto, o que , na minha opinião, é preocupante pois não estimula a inovação”, reitera.
Ética e IA
“Se por um lado há muita conversa sobre ética, na realidade nada está a acontecer”, alerta. Na sua perspectiva, há cada vez mais parceiros com nenhumas considerações éticas, e as grandes empresas tecnológicas estão a comprar grandes quantidades de dados, sem passar pelas validações e consentimentos.
E ainda… o Tik Tok
Daniela Braga deixa uma chamada de atenção para a relação entre IA e social media, nomeadamente no Tik Tok. Ao contrário de outras plataformas de redes sociais, que pertencem ao comité “Trust & Safety”, no Tik Tok não existe a moderação de conteúdos, o que traz graves questões de segurança no que respeita à utilização por parte dos menores.
A IA pode ser a solução para monitorizar e garantir a segurança, mas tal comportamento tem de acontecer do lado do consumidor. “Tem de haver mais poder e awareness do lado do cidadão, não vamos esperar que o Tik Tok, ou outra rede social, resolvam o problema”, refere.
Por Rita Rugeroni Saldanha