Quem trabalha no ensino superior tem vindo a verificar uma já não subtil evolução nas expetativas dos estudantes relativas à frequência de uma formação superior.
Se nos anos 80, 90 e 2000 o ingresso no ensino superior fazia-se para “ter um canudo” que assegurasse um bom e estável emprego e, em consequência, promovesse uma ascensão social, no mundo pós-Covid 19, dominado pela tecnologia e redes sociais, procura-se muito mais que isso.
Obviamente que a garantia de emprego, uma vez obtido o diploma, continua a estar no centro das motivações, bem como o potencial de remuneração mais elevada. Mas, acima disso, os estudantes atuais querem saber se vão ter o devido retorno do seu investimento, não só financeiro, mas também de tempo e vida. Estando cientes dos custos com a sua formação superior, assustados pelas várias recessões económicas a que têm assistido nos últimos anos, e face à constante flutuação do mercado de trabalho, avaliam o retorno do investimento educacional no momento da tomada de decisão quanto à instituição académica que pretendem frequentar.
Desde o modo como as aulas são conduzidas, aos serviços de suporte oferecidos, soluções de tecnologia e canais de comunicação em vigor, mas também ao envolvimento em comunidades, contacto com diferentes culturas dos quatro cantos do planeta, os alunos esperam muito mais da sua experiência no ensino superior. E é em função da experiência oferecida que decidem se esta vale o seu tempo e investimento.
Habituados a assistir ao relacionamento das marcas com os respetivos consumidores nas redes sociais, assumem-se como consumidores, neste caso, do ensino superior, verdadeiros clientes focados na proposta de valor que as instituições têm para lhes oferecer – e da qual esperam mais do que apenas aulas, bons professores e um diploma. Querem uma experiência personalizada que os faça sentir valorizados. Pretendem ter acesso a serviços de apoio que os ajudem na transição para as próximas fases das suas vidas. Visam pertencer a uma comunidade, alargar a sua rede de network e desfrutar disso, em simultâneo. E querem-no de uma forma permanente, imediata, on demand e a qualquer momento, com o suporte de soluções tecnológicas digitais, tal como estão habituados a outros níveis na sua vida.
Na era dos pedidos e entregas, marcada por plataformas digitais tão fáceis de aceder, os alunos esperam que suas interações no campus sejam perfeitas, não complicadas e imediatas. Não querem ter de se deslocar apenas para concluir tarefas simples. Quando precisam de algum tipo de assistência, a sua expetativa é que a mesma seja rápida, simples e eficaz.
Para atender a estas exigências em evolução, as instituições de ensino superior precisam de considerar que os alunos se veem como consumidores, tal como referido acima, e colocar essa perspetiva no centro de toda a experiência proporcionada. Cursos, diplomas e certificações devem ser desenhados numa abordagem mais abrangente, com atenção aos estudantes e às suas necessidades num mundo em exponencial transformação. E, nesse sentido, as instituições precisam de garantir que o aluno é apoiado em 360 graus.
Mais do que transmitir conhecimento, o qual está à distância de um click, há uma necessidade de inovação radical das instituições de ensino superior, com o objetivo de proporcionar uma experiência inesquecível, um profundo amor pela aprendizagem ao longo da vida e conhecimentos e habilidades transportáveis, de forma a preparar para a nova era que se adivinha. Neste âmbito, é também imperioso reinventar os espaços físicos académicos, os quais têm que deixar de ser uma coleção de prédios, para se tornarem em verdadeiros laboratórios vivos, onde os alunos sintam ter espaço para pensar e, ao seu ritmo e interesse, “inventem” os seus empregos e contribuam para a mudança.