Desde filmes como “Doctor Strange: no Multiverso da Loucura” da Marvel e “Everything Everywhere All at Once“, a séries de televisão como “Rick e Morty”, o nosso panorama cultural parece cada vez mais cativado pelo conceito do multiverso.
Esta fascinação estende-se além das suas representações no grande ecrã. Segundo o cosmólogo e físico Sean Carroll, a crescente popularidade do multiverso decorre do seu intrigante intelecto e da sua capacidade de nos ajudar a confrontar versões alternativas de nossas realidades, potencialmente possibilitando uma forma de conforto existencial.
O que é, afinal, o Multiverso?
Enquanto Hollywood apresenta o multiverso como um conjunto de todos os universos possíveis, permitindo que as personagens interajam ou entrem em disputa com os seus alter egos, os físicos têm uma visão mais matizada.
Carroll explica que, ao contrário do que se acredita, os físicos não inventaram o multiverso porque era um conceito “excitante”, mas porque este emergiu como uma conclusão lógica de outras teorias científicas.
Mais em concreto, da Teoria Inflacionária da Cosmologia e a Teoria dos Muitos Mundos da Mecânica Quântica (“The Many-Worlds of Quantum Mechanics”), que antecipam a existência de outros universos.
No entanto, o multiverso na física não é um campo onde “tudo é possível”, acrescenta. Em vez disso, as regras e limitações de cada universo são ditadas por equações científicas precisas. Por exemplo, na teoria dos “Muitos Mundos” da mecânica quântica, cada possível resultado de medição de um sistema quântico torna-se realidade, mas apenas num universo diferente.
Notavelmente, as interpretações do multiverso pela cosmologia e pela mecânica quântica diferem significativamente.
Na cosmologia, diferentes universos poderiam existir a biliões de anos-luz de distância com, potencialmente, diferentes leis da física. Em oposição, a mecânica quântica sugere universos paralelos onde diferentes resultados de experiências quânticas são realizados, existem simultaneamente com o nosso.
Embora a teoria do multiverso tenha provocado controvérsia na comunidade científica, com críticos a alegar que não pode ser observada, testada ou falsificada, Carroll argumenta que a sua força reside em explicar os fenómenos que observamos no nosso universo.
O desafio para os cientistas está em decidir se aceitam a existência de outros universos com base nas explicações convincentes fornecidas pelas teorias atuais, ou se as rejeitam em busca de explicações alternativas.
Enquanto os físicos lutam com as complexidades de múltiplos universos, a cultura popular abraçou o potencial narrativo de um multiverso. A ideia de que as nossas decisões e ações poderiam criar diferentes linhas do tempo ressoa com a nossa curiosidade natural.
Para muitos, o multiverso é uma fonte de imaginação, permitindo-nos fantasiar sobre uma realidade melhor sempre que o nosso mundo não vai de encontro às nossas expectativas; dá-nos a ideia reconfortante de que, em qualquer outro universo, poderíamos ter vidas diferentes.
Apesar dessa fascinação cultural, os cientistas enfatizam a importância de reconhecer a distinção entre as interpretações científicas e filosóficas do multiverso. O multiverso de Hollywood, onde qualquer realidade imaginada pode existir, pode parecer tentador, mas muitas vezes contradiz os princípios científicos fundamentais que orientam as teorias atuais sobre o multiverso.
Ainda assim, a combinação da ciência e filosofia no conceito do multiverso alimenta a nossa imaginação coletiva, permitindo-nos imaginar as infinitas possibilidades de existência. Se essas realidades alternativas são cientificamente plausíveis, filosoficamente satisfatórias ou meramente figuras de narrativa criativa, o multiverso continua a cativar, entreter e a fazer-nos refletir sobre o nosso lugar neste – ou em qualquer outro – universo.