As recentes, digamos, explicações, de Boaventura de Sousa Santos sobre a acusação de alegados comportamentos inapropriados, encontrou a explicação no neoliberalismo. Podemos achar a explicação estapafúrdia, pelo que importa explorar melhor aquele tema, para o que podemos contar com a ajuda de um livro acabado de chegar, A Doutrina Invisível, de George Monbit e Peter Hutchison (Presença).
Segundo a narrativa de certos grupos da extrema-esquerda (a qual, segundo os apaniguados, não existe), o neoliberalismo espalhou-se e naturalizou-se de tal forma que acabámos todos neoliberais. Gostei de ler o livro, que nos põe a pensar, quanto mais não seja para discordar.
Pessoalmente vejo no livro uma apresentação caricatural do capitalismo, aqui visto como uma máquina desregrada e descontrolada, entregue aos seus espíritos animais. Segundo os autores, o projeto neoliberal visaria desmantelar o Estado para os ricos poderem fazer o que lhes der na real gana. Já aí estamos!, vociferam os críticos que por vezes vão recorrendo à noção de hiperliberalismo.
Não ponho em causa a existência de neoliberais. Eles existem certamente, tal como existem defensores do terraplanismo, do neodruidismo, dos fundamentalismos religiosos, do comunismo estalinista, do trumpismo MAGA, do zoroastrismo e por aí fora. Mas até por isso, suspeito que não somos todos neoliberais.
Já sobre o Professor Boaventura não tenho a certeza: dadas as suas explicações talvez se tenha convertido: falou como um crente, uma pessoa sem agência face às macroestruturas secretas, como dizem Monbiot e Hutchinson, do neoliberalismo. Numa coisa estamos todos de acordo: que Deus nos livre das criaturas descritas neste livro, a começar pelos nossos antepassados colonizadores da Madeira.