É atribuída a Bismarck, o arquiteto da unificação alemã, um conjunto de frases memoráveis. Uma diz que quem não gosta de fogo não deve entrar na cozinha; outra que quem gosta de leis e de salsichas não deve ver como são feitas nem umas nem outras. Ou seja, convém, manter uma visão realista sobre as coisas e não acreditar demasiado na bondade humana. Daí a importância das instituições como profilaxia contra as tentações.
Mesmo com esta dose de preparação, uma pessoa pode surpreender-se. Há dias, numa polémica a propósito do mecanismo de atribuição de juízes aos casos, uma participante com responsabilidades no desenho do processo defendia a sua perspetiva dizendo que o novo mecanismo procurava solucionar problemas do mecanismo anterior. Por exemplo, seria do “conhecimento comum”, escreveu, que quando o sorteio se fazia por esferas (bolas), se escolhia a esfera correspondente a um dado juiz colocando-a previamente no congelador ou inscrevendo marcas palpáveis para que fossem detetáveis.
Este vosso criado já tinha ouvido falar do alegado uso desta técnica no mundo do futebol. Mas ficou surpreendido por ver a assunção tão cândida da aplicação da mesma lógica na justiça. Uma pessoa quer acreditar nas instituições mas assim fica difícil. Admiremo-nos, pois, que num tal contexto os populismos floresçam …
P.S. A propósito ou talvez não, para descobrir estratégias para lidar com os abusos e a corrupção, Corruptíveis, de Brian Klaas (Bertrand), é uma leitura francamente recomendável.